“How may I live without my name? I have given you my soul; leave me my name!”
Mero engano acreditar que o filme carrega suspense, violência e mulheres sendo queimadas, num churrasquinho de gente diferenciada. A realidade é que muito embora sejamos passíveis de pensar desta forma, As Bruxas de Salem tem uma sensibilidade e um contexto mais fundo sobre todo esse tema de bruxaria que envolvia o século XVII, período que toda a ignorância reinava por conta da religição e das crenças das pessoas.
Baseado em fatos reais, iniciou-se um período de Caça as Bruxas, e a pequena província de Salem era um dos palcos, quando um grupo de meninas foram pegas pelo reverendo, dançando em volta de uma fogueira e aparentemente compactuando com o capeta… Abigail Williams (Winona Ryder), a sobrinha do reverendo, talvez a mais esperta daquela província, começa a fazer uma série de acusações alegando estar perturbada por pessoas que tendo um pacto com o demônio, submetia Abigail a fazer coisas erradas e a perturbar as garotas. Logo, todo mundo cai no papo de Abigail e as meninas, que fingiam estarem possúidas.
E o que Abigail na realidade queria, era se livrar da mulher de John Proctor (Daniel Day-Lewis) para que pudesse ficar com ele. Com toda a ambição egocêntrica de Abigail, a história desencadeia para uma série de inocentes sendo capturados e punidos caso não confessassem a amizade com o Belzebu. O filme mostra muito bem a farsa e mediocridade em torno do tema, nas pessoas daquela época, que se você não confessasse você morria, e se você confassasse (uma mentira) seu mau nome seria estampado nas igrejas e por toda a província. Mas, além disso, mostra ainda a bondade e sabedoria de algumas pessoas, afinal, em paralelo com a perversão de Abigail, havia a esposa de John Proctor, Elizabeth (Joan Allen), que perdoando o adultério do marido com Abigail, mantém equilibrio do começo ao fim, tentando salvar seu marido, que perdia o controle diante da frieza dos fatos. Seja do reverendo e todos os demais destinados a julgar o caso, como das garotas (em principal, Abigail) que fingiam para não se prejudicarem com a história da dança na fogueira.
O elenco e a dedicação que todos dão aos seus respectivos personagens, é um ponto forte do filme que vai se arrastando de uma forma angustiante a medida que todos capturam velinhos inocentes acreditando nas histórias das garotas. É difícil determinar meio e fim, e além da sensação de incômodo não sobra muita coisa, até sermos contemplados com a belíssima cena do diálogo entre Elizabeth e John Proctor. E mais ainda, a cena que se segue, da qual me limito em não comunicar, mas que é a real cena que sacode o filme (deixado lá no final).
O diretor Nicholas Hytner soube trabalhar os closes (a corda final, esticada no último frame do filme por exemplo), a fotografia apagada e quase monocromática daquela época que representava todo marasmo e vazio espiritual da província. Não considero um excelente filme, senão pela atuação de Daniel Day-Lewis e Winona, que realmente consegue irritar, mas de fato é um dos melhores que lida com o tema de uma forma diferente.